2 de abr. de 2007

Paraíso Tropical: A novela com "cara de paisagem"

Não lembro qual foi o semanário, mas o que importa é que há algum tempo atrás, eu li, em uma revista, uma reportagem sobre "novelas que não davam certo no início e a forma de fazer com que elas crescessem na audiência" que perguntava a alguns autores qual seria essa fórmula. Gilberto Braga, lembro bem eu, respondeu dizendo que o ideal era lotar duas semanas da novela com muitos, mas muitos acontecimentos importantes. É uma idéia boa, sem dúvida, e eficaz - justamente por isso eu venho dizer, aqui no blog, que eu estou precisando ver Gilberto Braga encarar Paraíso Tropical como uma novela que merece ser levada a sério, porque as coisas, em todos os sentidos, não estão bem. Ele é um autor maduro e profissional, não é como a Glória Perez (América), que vê o diretor abandonar a novela, a audiência com 37, 38 pontos, e diz que tudo está como previsto. Está na hora de profissionalismo, porque essa novela das oito que ele está escrevendo em parceria com o Ricardo Linhares não é digna para o horário, para o próprio nome dele e para uma emissora como a Globo.

O problema não é pequeno. A verdade é que a novela está intragável, e, como bem disse Leão Lobo, “não dá pra ver um capítulo inteiro”. É decepcionante ver todo aquele luxo tão característico do autor de uma forma vazia, sem nada para dizer, encantar, com cara de paisagem. O núcleo de menor renda, no início tão interessante, agora já está ruim também. Já viram que 85% dos personagens dessa novela é mau caráter? Incrível. Vendo o capítulo hoje, foi uma seqüência sensacional de gente sem caráter, ou de pecadores: é a Vera Holtz que não tem compaixão pelo filho, e depois vai ser falsa lá na casa do Tony Ramos, que sai correndo de casa com a desculpa de que vai para Frankfurt a negócios, quando, na verdade, vai para Cancun com a amante; a irmã “má” (está mais para mentirosa e golpista, eu sei) da Alessandra Negrini está tramando um falso casamento com um gay para roubar dinheiro do pai dele, incluindo um tipo raro de Golpe da Barriga, em que o “noivo” tem consentimento da mentirada toda; e, claro, o constrangimento que foi ver um ator do garbo de Hugo Carvana fazendo um sem-caráter que rouba e devolve celular dos outros para fazer ligação interurbana. Ah, e teve também o Bruno Gagliasso roubando dinheiro da carteira de hóspedes do hotel em que ele trabalha - com o Paulinho Vilhena, ao fundo, abaixando o óculos à la Alemão BBB7, para ver tudo.

O grande vilão da novela é interpretado por Wagner Moura, um bom ator, e que está bem em Paraíso Tropical, mas o personagem não tem o charme, o diferencial. Ele teve hoje, também, uma cena em que o irmão dava um sermão com coisas do tipo “Você não tem amigos!” e ele chorava no final. E ponto. Só isso. Sei lá o que aconteceu com o autor, parece que ele banalizou a capacidade que tem de fazer gente ruim - segundo o próprio, coisa tratada “no divã do meu analista”. Esse bando gigantesco e majoritário de gente ruim na novela é que deixa a trama devagar, e até mesmo sem conteúdo (o que é uma surpresa, porque a tendência é que com o aumento de vilanias, o número de conflitos também aumente). A grande motivação do enredo, até agora, é o encontro entre as gêmeas interpretadas por Alessandra Negrini - o que, nem é preciso dizer, não está deixando ninguém ansioso ou interessado. Por isso, ver Paraíso Tropical virou essa coisa chata: não há, substancialmente, algo sedutor ou motivador do ponto de vista do telespectador. Belíssima, a maravilha que Silvio de Abreu escreveu, tinha essa maldade, tinha esse luxo, mas tinha também personagens interessantes por trás disso tudo, tinha uma grande história. Jamanta virou Odete Roitman (ou Viúva Porcina, ou qualquer outro personagem interessante) quando comparamos Belíssima e Paraíso Tropical, novelas tão parecidas.

É por isso que eu comecei o texto dizendo que estou esperando uma sacudida na novela, algo como a explosão do shopping em Torre de Babel. Que tragam a Darlene de volta, que ressuscitem a Laura, mas que algo seja feito. Ninguém está comentando Paraíso Tropical, ninguém quer vê-la, e o elenco está lá como se nada estivesse acontecendo. É a síndrome generalizada da "cara de paisagem". "Quem, eu? Está falando comigo?".

GAYS NA TRAMA – Bom citar aqui, também, a naturalidade como Gilberto Braga está expondo os gays na novela. Ele, homossexual assumido, deve ter interesse em fazer esse trabalho. Lembro que a primeira cena de um casal gay nessa novela me deixou surpreso: um homem chega de um coquetel, começa a desabotoar a camisa, cansado, chega no quarto, a tevê está ligada, ele desliga, olha para a cama, dá um risinho, a câmera anda, tem um outro homem lá. Esse é o bom Gilberto Braga, o das grandes, antológicas e surpreendentes cenas. Na trama, já foi incluído um outro casal gay, sendo uma das partes da união aquela que, justamente, vai dar o golpe no pai casando postiçamente com Alessandra Negrini. Seria interessante ver esse personagem com retoques bem malvados, fazendo isso como maldade, mesmo – soaria preconceituoso, chocante, ou desprezível? Soar natural ia ser bem difícil, há de se convir.

Mas o que eu quero dizer sobre o assunto, e compreendam que é bem difícil explicar sem parecer preconceito ou coisa do tipo, é que me irrita o tratamento “vamos fazer a sociedade aceitar os gays com eles felizes, bem-sucedidos e etc!”. É uma coisa meio capitalista essa, de mostrar o casal com tevê de plasma, apê em Copacabana com cama king size invejável. E o outro, claro, com pai rico, cheio de amigos e risonho que só. Parece que um gay infeliz, pobre ou similar não tem lugar na nossa teledramaturgia, que arrisca sem querer errar, que está aberta a criar discussão, mas que não quer que o próprio produto da/e a abordagem do tema seja o foco. Não entenda mal: é um avanço ver que a Comunidade Gay tem um representante como Gilberto Braga que os entende, e expõe bem amplamente o tema, em cadeia nacional e no horário mais nobre do maior canal do País. Também é um avanço ver que não há caricatura ou estereótipo em nenhum dos dois casais da novela. Mas a naturalidade da abordagem é, também, simplista demais. Até isso está incluído no “chove e não molha” que virou Paraíso Tropical.

7 comentários:

Anônimo disse...

Ué! Gays infelizes já tiveram vários: O Junior de América, O Sandro da Próxima Vítima, O casal de lésbicas de Mulheres Apaixonadas entre outros. Gay vilão já houve em Roda de fogo, (Cécil Thiré) Esta a primeira vez que mostra um casal gay feliz e que as pessoas ao redor não têm problemas com isso. Todo mundo aceita com naturalidade.

Carlinha disse...

Concordo com todo seu texto, Gustavo. (Já li seu blog algumas vezes, mas é a primeira que comento)
Eu gostei da história da novela, da premissa, mas de fato parece que a coisa não anda. Na primeira semana, eu não assisti a novela, devido ao trauma de Páginas da Vida. Na semana seguinte, comecei a ver a novela e gostei do enredo, me apeguei aos personagens e fiquei curiosa pra ver onde ia tudo isso. Entretanto, alguns capítulos depois... o interesse se perdeu. Eu, que não tenho TV a cabo, ouço música ou vejo um DVD na hora da novela. Tenho assistido somente a uns 3 capítulos por semana e não me perco na história. Quando isso acontece, acho que é porque há algo de errado com a narrativa, não é mesmo?
Para todos os efeitos: continuo viúva de Belíssima.

Kisses! ;)

Gustavo Cruz disse...

André,

eu entendi o que você disse, e talvez eu não tenha sido claro o suficiente. Porque todos os que você citou nunca tiveram abordagem natural. Sempre foram um corpo estranho, onde a homossexualidade deles era importante dentro e fora da novela. Gay pobre e triste nunca foi tratado com naturalidade interna numa trama. Pelo menos não que eu saiba.

Carlinha,

um dia eu vou fazer uma lista de cem coisas melhores para se fazer do que ver Paraíso Tropical. Desde que, claro, a novela continue como está. Espero que não!

Abração (pros dois)!

Anônimo disse...

Gustavo, concordo com vc, o Gilberto Braga achava que com a entrada da gemea "má" a novela iria deslanchar, mas não foi o que aconteceu, bom eu acho que ele deve é transformar a Taís em uma nova Maria de Fátima, botar ela para fazer horrores com o avô, e depois com a irmã, ela é que deve assumir o papel de grande vilã da trama, o Olavo deve ficar abaixo dela, ele deve ser o apoio dela, mulheres bandidas são muito mais interessante, a novela tem sim uma boa trama, mas a coisa não está andando, a história das gemeas, que dizem que será o forte da novela ainda não aconteceu, as duas já deveriam estar disputando o Daniel desde a 1º semana. Mas a novela não é de todo o mal Gilberto Braga vai dar sim uma mudada na trama, o chato é que ele já escreveu mais de 40 capitulos, então eu acho que a novela ainda vai enrolar por um bom tempo, só pra maio é que a trama vai esquentar.

Anônimo disse...

Sorte da Record que poderá avançar com "Luz do Sol" e "Vidas Opostas" já que "Paraiso Tropical" que deveria ser um sucessa até maior que "Paginas da Vida".

novoluar disse...

Gente, mas vale tarde que nunca (eu só tô assistindo agora, coisas de viver em Cuba!), mas assino em baixo! A novela É RUIM! Nem mesmo com a edição internacional (que deu um pulo olímpico e do cap. 44, trouxe o 'almejado' encontro das gêmeas para o 16!). PÉSSIMA!

E vejam que sou (era?) do Gilberto... mas ele, como depois aconteceu em Insensato coração não escreveu nessa novela - tá na cara... e não de paisagem - nem o espelho da mesma (a folha do roteiro com elenco, escritores e direção)!

Quem tem a culpa? Ele! O Ricardo Linhares que tem o histórico de novelas terríveis, mas que continua lá e pior, com a bênção de um craque como o Braga que se confessa 'sem inspiração' e, no entanto, já escreveu tantas coisas inspiradas... e chama o Linhares de 'grande arquiteto' e encontramos ERROS GROSSOS de roteiro, coisas que gente que sabe disso percebe na hora...

Não estou reclamando nem olfato, nem paixão de mestre noveleiro. Falo do elementar ABC de um bom roteiro: introdução/ nó/ desfecho, com cenas mal colocadas, ausência de clímax, capítulos chatos (no sentido estrito, porque a maioria carece de picos, nem do típico crescendo que deve existir em qualquer obra dramatúrgica).

É uma seqüência de cenas inseridas segundo uma rara e inexplicável intuição. Fala aqui, fala ali, fala acolá, sem contar ações torpes que denotam um amadorismo não condizente com a grana que ganha um autor das '8'.

O meu temor é que Babilônia (horrível o prefixo Rio que lhe meteram), repita os mesmos erros, porque não vai ser agora que o Gilberto Braga vai acordar, né?

novoluar disse...

FÉ DE ERRATA: E vejam que sou (era?) do Gilberto... FÃ... FÃ.