FAM - Dia 1: "Cão sem dono", de Beto Brant
Se eu não soubesse o título de Cão sem dono, visse o filme, e fosse desafiado a descobrir, tendo cinco chances, eu acertaria. Provavelmente a palavra “cão” estaria em quatro dos meus chutes. E sabe por quê? Porque esse filme é o típico “independente” vazio, em que há um conceito fraco, e que não sustenta o filme. Mas o principal, quanto ao título, é que o elemento corriqueiro da idéia toda (no caso, um cão vira-lata amigo do protagonista) normalmente é endeusado e abocanha o título do filme. Beto Brant, diretor, não fez bem com esse filme. Sei lá, mas pareceu uma fita que vai acabar sem sentido algum no cenário nacional, apesar dos prêmios que já ganhou. Foi a primeira obra audiovisual exibida no Florianópolis Audiovisual Mercosul (FAM), e teve sessão lotada, com rápida, mas entusiasmada ovação final.
Filme não fica com o espectador depois de visto. Tudo é natural demais, das interpretações ao roteiro, e os problemas iniciais que surgiam ganhavam a resposta automática da minha cabeça “Isso é o conceito do filme”. Lá pelo meio, já não estava sustentando mais essa desculpa. O fim, especialmente, é bem alienado – não há modo de costurar essas cenas finais ao resto do filme.
Interessante ver que durante toda a projeção, houve risadas e mais risadas. Se Beto Brant tivesse feito uma introdução ao filme, dizendo que era um “drama sobre a vida do homem moderno” ou coisa parecida, essas risadas talvez não estivessem presentes, até porque não há muita graça no filme. Melhor: há, só não há nada que faça RIR. Talvez bem aperfeiçoada, a abertura cômica talvez salvasse o filme.
A trama é sobre um homem que gosta de uma mulher, e vai aprender a amar a moça com o tempo. Essa moça gosta dele, e começa tentando despertar interesse no moço. É isso. Há um cachorro amigo do dono (“Eu chamo ele assim: ‘Psssst...’”), a família do protagonista e aquela que definitivamente é a melhor coisa do filme: o encontro de um motoqueiro com o casal. Se o conceito naturalista não segura o filme, nessa cena, simplesmente engrandece. Tudo funciona.
O elenco é o que mais me decepcionou, porque esse é um tipo de filme para atores carregarem nas costas, e o que os dois principais fazem é ignorar a responsabilidade. O protagonista é interpretado com desleixo e com falta de alma, deixando forte no público a impressão de ser um homem que vive dizendo “Só... Pois é... É aí...”, como se estivesse chapado. A outra parte do casal (a moça) é irritante, e a interpretação está um tom acima da dose de açúcar necessária – a moça, coitada, não é a culpada de uma cena feita para que ela cantasse gritando, e que quebra o ritmo. Ambos atuam como se estivessem improvisando, e é aí que eu quero chegar: é impossível ignorar os deslizes de interpretação dos dois, que às vezes na pronúncia, às vezes no olhar ou ainda na postura, deixam claro que são atores, e não o personagem. Num filme natural, isso é imperdoável.
Cão sem dono não é um desastre, all in all, porque há, no fundo, um certo coração do diretor, uma vontade de fazer direito um filme sem potencial. É difícil não se identificar com algumas pequenas cenas, até pelo gauchísmo. E deu.
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