8 de jun. de 2007

FAM - Dia 8: "Os 12 Trabalhos", de Ricardo Elias + "Proibido Proibir", de Jorge Durán

(Proibido Proibir)

Durante os oito dias de FAM (Florianópolis Audiovisual Mercosul), nunca a sala principal do CIC, que abrigou o festival, esteve tão cheia. E tão entusiasmada. Tanto na abertura dos envelopes com os vencedores dos prêmios das mostras competitivas, quanto durante e após a exibição do longa Proibido Proibir, foram aplausos incontáveis e de deixar o diretor do curta mais premiado da noite, O Lobinho Nunca Mente (o favorito deste que vos escreve), sem palavras. Foi um encerramento e tanto para um festival que, de fato, cresceu e ganhou expressividade no continente.

OS 12 TRABALHOS – Para encerrar o festival, a organização do mesmo preparou uma sessão dupla com os nacionais Os 12 Trabalhos e Proibido Proibir, sendo os dois, juntos, os melhores longas exibidos fora da competição durante todo o FAM. Também juntos, representam o melhor do cinema nacional, e essa vontade de querer filmar e mostrar competência.

O primeiro deles, Os 12 Trabalhos, é de Ricardo Elias, diretor que em 2004 compareceu ao festival com o inferior De Passagem. Ainda que a ambientação e o clima do filme sejam parecidos, Os 12 Trabalhos é diferente porque tem justamente a alma que faltara em De Passagem.

Aqui, os motoboys estão no centro da narrativa, e sendo o mais retraído emocionalmente deles o nosso protagonista. Herácles (interpretado pelo ótimo Sidney Santiago, presente no festival) vira motoboy assim que sai da FEBEM, e é Jonas, seu conhecido, que lhe leva ao caminho. O filme inteiro passa-se em um dia, o primeiro dia de trabalho de Herácles. São doze trabalhos que ele terá que cumprir no debute, e cada um deles revela não apenas mais sobre o próprio personagem, como também revela mais da carga emocional que um motoboy sente em um dia de trabalho. Os 12 Trabalhos compra uma profissão, e em uma hora e meia mostra o suficiente para compreendermos todo um universo.

Acho simplesmente fantástico o trabalho que o diretor faz aqui de nos entregar um filme cheio de vida urbana, com muito cimento, e mostrar a alma (que eu já disse haver) com a afetação real, não só dos motoboys, mas de cada personagem do filme. Os 12 Trabalhos é ainda um filme lindo visualmente, com cor em meio ao cimento, e nada mais justo que a saga do protagonista terminar numa cena final cinza, sem sol, sem nada. As cores dele foram se desbotando ao longo dos doze trabalhos.

PROIBIDO PROIBIR – Depois da cerimônia de premiação, a sessão dupla de nacionais finalmente foi completada, com a exibição de Proibido Proibir. Na introdução, o ator Caio Blat implorou que nós, espectadores, promovêssemos o cinema nacional... divulgando o filme dele.

Mas a verdade é que dá vontade de divulgar mesmo esse Proibido Proibir, ainda melhor que Os 12 Trabalhos. O fôlego aqui nunca é perdido, ao contrário, é renovado de dez em dez minutos. Visualmente, é um espetáculo. A fotografia e a montagem do filme são as melhores que eu vi em um filme nacional em muito tempo.

É até complicado explicar a trama do filme, porque qualquer coisa dita pode revelar mais do que o necessário. Trata-se de um trio (Maria Flor, Caio Blat e Alexandre Rodrigues) com relações que vão do amor à amizade, e que, cada um partindo de seu curso na faculdade (Arquitetura, Medicina e Sociologia, respectivamente), desembocam em uma história de mocinho e bandido numa favela carioca. Enfim, é justamente por ser tão cheio de oportunidades que a narrativa é renovável, e não há momento algum em que o absurdo ou a conveniência se fazem precisos.

Durante a sessão de Proibido Proibir, que encerrava com (olha o clichê, Gustavo!) chave de ouro o festival, fiquei pensando numa declaração recente do competente documentarista João Moreira Salles, de que o cinema argentino é melhor que o brasileiro, porque eles sussurram, e nós gritamos. Tive algumas experiências com o cinema argentino neste festival que, no cotidiano, eu não tenho tanto, e deu pra entender o que ele disse. O cinema da Argentina flui na tela como um poema, e o nosso como uma prosa. Tenho que discordar de Salles – acho o nosso cinema melhor. Quando quer ser, é, inclusive, bem melhor. Nós estamos num momento muito bom (ainda), em que, mesmo quando as emoções dos personagens de nossos filmes são por demais gritantes, ainda compõem um contexto que faz sentido. Proibido Probir é um filme brasileiro excelente, e há muito tempo que não vejo um argentino capaz de chegar perto. Esse é um dos melhores filmes lançados esse ano que eu vi.

Talvez o único pecadinho dessa obra de Jorge Durán seja o trio central. Eles têm mão um roteiro ótimo, mas o desempenho não chega a tanto. Está entre o bom e o ótimo, talvez um “muito bom” com careta. Alexandre Rodrigues é o melhor dos três, o que menos erra. Maria Flor ainda não tem 100% de capacidade de corresponder à densidade de uma personagem como essa. E Caio Blat talvez tenha sofrido injustamente o mesmo processo que a mídia fez com Selton Mello, taxando-os de “prodígios" e "intocáveis" muito cedo. Selton (e Lázaro Ramos, pra dar outro exemplo) cumpriu a promessa, mas Caio ainda tem um caminho a percorrer. Há paixão por atuar nos olhos do rapaz, talvez nesse filme haja descuido na pronúncia às vezes e também no excesso de tom cômico depositado em cenas que não precisavam disso. Ainda assim, a(s) interpretação(ões) é(são) muito(s) boa(s). Proibido Proibir vai ficar na minha cabeça por um bom tempo.

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