"Sete Pecados" começa com diamantes que voam e - trocadilho! - com pecados

É louvável que Walcyr Carrasco tenha resolvido centrar todo o primeiro capítulo de Sete Pecados, nova novela das sete da Globo, em uma personagem sem um pingo de bondade e irritante, como é a interpretada por Priscila Fantin. A moça é uma “patricinha” que sente orgulho de sua herança, é esnobe e tem saudades do pai. Talvez esse risco de Carrasco, de poder perder os telespectadores por mostrar uma pessoa fútil e chata como protagonista (mas que é necessária para guiar a trama), tenha sido a melhor coisa do capítulo de estréia. E, veja bem, eu estou elogiando o risco. Porque a execução da idéia não foi boa.

Primeiramente, e o mais importante, Priscila Fantin. Ela está péssima, ruim mesmo, no papel. Eu queria chorar ao ver aquela cena em que ela olhava para uma certa estátua no seu quarto, e reclamava do quanto sentia saudades do pai. Atuação “mexicana” talvez seja pouco para adjetivá-la. E, pegando carona, outro problema de execução da idéia foi justamente essa coisa de querer mostrar a emoção da personagem quando o assunto é seu pai. Além da cena da estátua do quarto, outra, pouco depois, num restaurante com o noivo, também foi dose. Mais pra frente, a personagem foi pra uma boate, aonde resolveu soltar algumas frases de efeito, sendo a mais constrangedora delas a “Mas esse povinho tem uma vocação para programa de auditório!”. Frases como essa normalmente servem para mostrar o quanto o pessoal que faz televisão é alienado em seu próprio mundo, embora eu não considere Carrasco uma dessas.

Outros problemas vieram naturalmente, como a interpretação preguiçosa de Elizabeth Savalla, que não mudou uma vírgula da composição que ela tinha feito há algum tempo, em Chocolate com Pimenta. Jezebel (de Chocolate) e essa nova personagem (Rebeca) são a mesma pessoa. Suely Franco não tem o problema de composição, mas sua personagem certamente é incômoda para interpretar, porque sua função é reclamar. Da mesma coisa. Em todas as cenas. Nada, porém, se compara ao que foi aqueles diamantes cruzando o espaço sideral e virando cartas do tarô que paravam em cima de uma mesa, no primeiro minuto do capítulo.

Estranhamente, eu gostei muito dos dois momentos mais óbvios da estréia, o encontro de mocinha com mocinho (Fantin, Gianechinni) em acidentes de carro. Visualmente, foram lindos (o primeiro ainda teve o auxílio do som! Boa, Jorge Fernando!), e o paradoxo entre as duas cenas – lado de dentro do vidro/lado de fora, e quem está aonde – pode ter mais de uma interpretação. Não é engraçado que, na estréia de uma novela que quer ser atual, com o cheiro de Antonio Calmon no ar, mas é passada num tempo em que YouTube não existe e é criado no Brasil (“caso Cicarelli” também não existiu, coisa que jamais aconteceria em Pé na Jaca), o maior acerto prático tenha sido no maior de seus clichês?

Ruim ou não, a estréia de Sete Pecados deixa claro de que estamos falando de uma novela, em todos os sentidos da palavra. E, levando em conta que há uma ponta de misticismo (aqui, contemporânea, é claro) como aquela que fez de Alma Gêmea um sucesso, talvez estejamos falando da novela que será o maior sucesso de audiência do horário das sete nesta década. Essa é a minha previsão.

Só não me venham com mais diamantes voadores e aquela música da Ivete Sangalo (parecia ao vivo, o tom estava aberto demais para trilha sonora).