Analisando os pilotos: "Aliens in America"
“Um Everybody Hates Chris religioso”, foi o que eu pensei após ver o piloto de Aliens in America, uma série da CW (mesmo canal de EHC) e sem previsão de estréia no Brasil. O que as duas séries compartilham é o espírito juvenil consciente e a idéia da vida em uma bolha num ambiente tão repleto de relações, como o colégio.
No caso de Aliens, a idéia é ainda mais arriscada, porque trata-se de um muçulmano típico no meio de americanos típicos. Raja é estudante de intercâmbio, e sua família hospedeira resolve abrigá-lo para incentivar seu filho Justin a crescer no colégio como uma figura (não como aluno, e por ele não ser uma "figura", na sociedade em que vive, ele é "alien"). A expectativa de um inglês carismático e popular faz com que eles (os pais da casa) fiquem chateados com a vinda de um paquistanês, mas ao final do episódio piloto, a conquista vem do ser humano que há dentro do intercambista (sem pai nem mãe), e não sua religião (rezar virado para a Meca e convidar Justin) ou aparência (er... muçulmana?).
Raja, como personagem, é menos interessante que o que ele faz por Aliens in America. Não é uma figura necessariamente carismática, e pela caricatura que é construída ao seu redor, não ganha dimensões muito profundas. O “alien” realmente interessante daqui é Justin, porque através dele, a empatia vem, e a série faz um uso esperto de sua narração, num tom confessional nem dramaticamente exagerado, nem superficial. O personagem precisa da narração para ficar completo, e embora muitos possam achar isso um defeito, eu creio que é uma forma de tornar o personagem ainda mais próximo do telespectador - também é a responsável por fazer da série um momento muito mais alegre que hilário (por enquanto).
Esses dois personagens, colocados no colégio, fazem da série uma experiência subjetiva – cada vez que são humilhados ou passam por apuros, o roteiro transpassa a bolha em que os personagens vivem, e ali fica alojado. Há um filme que mostra essa experiência levada ao extremo, Pink Floyd – The Wall, e a metáfora aqui não é “personagem vive em uma bolha”, mas sim “com muros ao seu redor”, que é basicamente a mesma coisa. Para o desenrolar da temporada, Aliens in America poderia desenvolver um pouco mais o colégio em que Justin e Raja irão estudar por um bom tempo, fazendo desse ambiente um lugar não apenas que os acolha para a humilhação, mas para que mostre profundamente um ambiente com dois corpos estranhos ali. Falta ampliar essa visão, mas não dá para cobrar isso de um piloto que dura apenas vinte minutos.
O espírito desbragadamente alegre da série convence e acolhe o telespectador em meio ao tom do absurdo e das caricaturas (o próprio Raja, a mãe e o pai de Justin, tipo de caricaturas inofensivas), pega clichês de filmes de high school para fazer bom uso deles, e os poucos minutos da metragem viram um momento suave, mas culturalmente importante, ao abrir os olhos à alienação norte-americana quanto a estrangeiros. Essa afirmação pode até parecer cafona e careta, mas só quem já ouviu um americano perguntar se existe McDonalds ou Coca-Cola no Brasil sabe o quão realmente importante isso é.
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Uma outra coisa sobre Aliens in America a se pensar é: quanto irá durar o programa de intercâmbio de Raja? Sabe-se que esses programas são de um ano, então fica a expectativa sobre como irá a série resolver esse enigma caso ganhe uma temporada completa e outra, e outra...
2 comentários:
Eu gostei do piloto de Aliens. Bem levinho, e engraçado típica série que passaria no sbt de tarde. Prentendo acompanhar
Oi!!!
tudo bom...
gostei bastante do seu blog..
qdo tiver um tempo d´´a uma olhada no meu..
www.programa-semnome.blogspot.com
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