8 de mai. de 2007

E como anda "Pé na Jaca", afinal?

A essa altura, eu era capaz de prever desde o primeiro capítulo, Pé na Jaca já não tem mais o mesmo senso de atualidade, as piadas não tem mais tanto a ver com o cotidiano nosso, e sim com o dos personagens. Se em outra novela o cotidiano dos personagens poderia ser o nosso, nessa aqui, isso não acontece. Não é negativo, mas uma questão de opção do autor. O fato é que talvez pelo ritmo chato, repetitivo, irritante, que escrever uma novela tem, Carlos Lombardi, por talvez ter deixado de ler, ver ou ouvir notícias, entrar em sites, ver séries e outras novelas, ou qualquer uma das outras coisas que nós sabemos que ele adora, perdeu um pouco o recheio para colocar naqueles deixas que a narrativa proporciona. A comédia de Pé na Jaca começa a enjoar, mas, estranhamente, a novela ainda está boa.

No panorama atual, ainda é a melhor novela brasileira no ar (eu adoraria dizer que é Vidas Opostas, pelo fator megacool de ser da Record, ser séria e etc, mas ainda não funciona comigo), e pelo que apresentou até este ponto, uma das mais engraçadas dos últimos tempos, também. A trama da novela é bem delineada - o drama tem cara de drama, a comédia tem cara de comédia, os dois formam um conjunto homogêneo e simpático. Os problemas são outros, e que surgiram no meio do caminho. Poucos deles vêm desde o início.

É o caso da personagem de Deborah Secco. Era interessante no início, até assumir a face de vilã. Deborah, na tela, está feia, com feições anoréxicas e umas caretas muito, muito estranhas. Menos seria mais, no caso dela. Há outros problemas no elenco, mas todos num grau muito menor que esse – e 95% deles estão naqueles personagens mais caricatos, os mais simples, daqueles que a cada três palavras que falam, soltam uma frase ou expressão que se acostumou a classificar como “bordão”. Os efeitos sonoros, “boom!”, “pééé”, “tóim!”, “cabum!” e etc, coisas que normalmente indicariam falta de capacidade da direção em expressar e dar a sensação da gague através da pura e simples imagem, e que precisariam desse pano de fundo saído do tempo de Chapolim Colorado para tanto, aqui são simplesmente elementos para deixar a novela ainda mais cheia de coisas. Assisti-la com distanciamento, sem prestar muita atenção ao desenrolar dos fatos, nas falas, ou em qualquer outra coisa, deixa no telespectador uma sensação de colorido, sons de Bob Sponja e piscina de bolinhas. É esquisito, mesmo.

O grande trunfo, o que faz a novela brilhar quando está em cena, é o Murilo Benício. Pouca gente gosta, pouca gente ri, mas a verdade é que poucas vezes na carreira, Benício conseguiu criar uma caricatura tão irretocável, tão simples, tão excêntrica, sapeca, que inspira um senso de dó do telespectador. Arthur é um personagem que faria sentido em qualquer tipo de trama, porque ele em si não faz sentido. Ele poderia ser um ladrão, um Don Juan, um prefeito ou mesmo um adestrador de Yorkshire. Dá para imagina-lo em qualquer situação. Carlos Lombardi, tal qual Manoel Carlos e sua Marta, de Páginas da Vida, parece estar escrevendo uma outra novela quando se dirige a Arthur. Faz me rir cada vez que ele troca o nome de um personagens ou diz brrruuu. E isso ainda é o de menos.

Talvez faltem outros acertos como esse, outras nuances tão especiais. Talvez Carlos Lombardi ainda esteja escrevendo uma novela com o mesmo problema de Kubanacan, por exemplo, aquela que precisa do telespectador acompanhando-a desde o início – e não para saber da trama, mas para pegar o ritmo da comédia. A verdade é que, para mim, pegando a novela desde o início, o conjunto é bem bom, eficaz e, como eu disse uma vez no Televisionando, serviu para instaurar o PFL (Parâmetro Fernanda Lima). Se ela está boa, a novela obrigatoriamente tem que estar também. Esse parâmetro a gente olha nessa ordem, mas a prática é o contrário - quem faz a atriz boa é a novela, e não o oposto.

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