5 de jun. de 2007

FAM - Dia 5: curtas + "A Dios Momo", de Leonardo Ricagni

Houve uma bagunça na programação original, e um novo curta foi inserido na exibição desta terça-feira, que foi o quinto dia do FAM (Florianópolis Audiovisual Mercosul). Essa foi a única coisa que saiu do previsto. Todo o resto – aplausos exagerados, pipoca no chão, fila de votação, etc – ocorreu. O secretário de audiovisual do Ministério da Cultura esteve hoje lá, e foi ultraovacionado.

Dos curtas, novamente, a sensação de decepção. Não fiquei um pingo animado com a fraca animação gaúcha Leonel Pé de Vento, sobre um menino que sofre uma ação diferente da gravidade, e tem dificuldade de relacionamento com outras pessoas. O problema com esse curta começa na dublagem, absolutamente arrastada para haver sincronia, e depois, em um segundo plano, a falta de surpresas. Eu sabia o fim nos primeiros dez segundos.

Depois veio Pixinguinha e a Velha Guarda do Samba, curta convidado (portanto, fora da competição) de São Paulo, e que eu achei gostoso de ver, por causa da nostalgia, etc. Mas, por favor, isso não é um curta. É um filminho que um senhor simpático fez pra mostrar o vídeo do Pixinguinha que ele lembrou que tinha. Não tem fundo narrativo ou documental, mas sim de "memórias". O que posso eu dizer?

Alguma coisa assim, o curta paulista que foi incluído na programação do dia por engano, é até bom de ver. Tem um visual legal, uns tons publicitários, e é sutil na história que conta. Fala de um rapaz homo e sua amiga na noite paulista. Mais não conto pra não perder a graça. É uma pena que quando a história desemboca em um supermercado, os personagens virem marionetes do diretor, que quer contar uma coisa pessoal, e, enfim, estraga o resultado.

Meu favorito do dia foi o carioca O Lobinho nunca mente, sobre um rapaz que, dentro de casa, cai da cadeira, fica paralítico e durante todo o tempo do curta, conta o que está sentindo naquela condição, sem poder mexer nada senão os olhos. Gostei do visual, gostei da narrativa envolvente e do ator. Difícil ficar preso à voz e aos olhos para criar um personagem, e ele vai bem só com esses instrumentos.

Por fim, o longo até cansar Outono, de Minas Gerais, que não tem uma palavra pronunciada ou uma ação. O diretor desse filme parece ter influência de Murnau, colocando alguma coisa de Nosferatu aqui e ali. Mas é uma bobeira, uma repetição, e o fim, que dá margem a várias conclusões, tirou de mim ainda a sensação de que aquilo que acontecia tinha um sentido maior. Hmmm, então “isso” era por causa “daquilo”? Pff. Não rolou.

***

Como de costume, após os curtas, o longa da noite. Dessa vez, era o uruguaio A Dios Momo. Juro, juro mesmo, que eu queria muito amar esse filme. Eu só... gostei. Melhor longa do festival até agora. Mas, ainda assim, poderia ter sido bem melhor.

Em uma hora e cinqüenta de metragem, apenas vinte minutos são descartáveis - e, por ser os vinte minutos de encerramento do filme, o prejudicam seriamente. O resto todo (uma hora e meia) é sólido, bonito, bem interpretado e tocante.

A história é bem local, sobre um menino que não sabe ler e acaba por aprender durante o carnaval lá do Uruguai. Toda a aprendizagem dele acaba misturada com a cultura da festa. Mas, como filme, tudo é bem delineado. O que é carnaval soa como carnaval; o que é filme “filme”, soa como tal. Até os derradeiros minutos. Depois de um verdadeiro clipe musical, com todas as tramas do filmes aparecendo lado-a-lado, o som aumenta mil decibéis, vira uma bagunça visual (vitamina de banana e mamão) e sonora (liquidificador ainda ligado). Por favor, precisava disso? A última nota do filme ainda é patriota-musical, deixando um gosto ruim na boca. Again: antes disso, o filme é sensacional.

É o garotinho principal, porém, que realmente é sensacional, incrível. Nunca tinha o visto, e provavelmente não voltarei a vê-lo, mas esse Mathias Acuña é um talento e tanto. Lá no fim, quando o filme está nos seus piores momentos, e a figura de seu personagem é usada como artifício melodramático (antes, isso não havia acontecido), ele mantém a mesma linha de serenidade. Ivana Baquero, no estupendo O Labirinto do Fauno, triunfara pelos mesmos motivos que Acuña também triunfa neste.

Lembrei de O Ano em que meus pais saíram de férias durante a sessão, e esse A Dios Momo é melhor ainda, mais denso.

Nenhum comentário: