31 de ago. de 2007

Analisando os pilotos: "Californication"

A primeira cena (ou seqüência) do episódio piloto de Californication é também a melhor. Começa mostrando o personagem principal, Hank (interpretado por David Duchovny, o Mulder de Arquivo X), num carro, e este então pára em frente a uma igreja. Ao entrar nela, começa a falar com (a imagem) de Jesus, e é interrompido por um freira, que se oferece a ajuda-lo com seus problemas. Em pouco tempo, essa ajuda vira uma oferta de blowjob (não dou a tradução porque seria, digamos, chula), e a seqüência corta para Hank na cama com a personagem que seria a freira, mas, na verdade, tudo não passara de um sonho. O momento não rende grande risada, mas é engenhoso e faz o principal – deixa o telespectador no ponto certo (curioso, com grande expectativa) para assistir ao episódio.

Ficamos, então, sabendo da história de Hank, um escritor “de um livro só” (livro este que virou filme, do qual ele tem ódio), que tem uma filha de um relacionamento que não rendeu casamento. Ele também é mulherengo, e cenas envolvendo mulheres nuas em sua cama surgem com bastante freqüência. Hank mora em Los Angeles e vive Los Angeles. Seus relacionamentos, suas conversas e quem o personagem simplesmente é fica explicado pelo fato de que a trama toda é passada em Los Angeles. Entourage tem esse mesmo clima, então vá ver/baixar Californication pensando na dita série da HBO, porque são bem parecidas.

Ver o piloto deixa uma sensação estranha: o episódio não é muito bom, mas a sensação de que os seguintes serão ótimos é forte. Duchovny está muito bom no papel, embora eu não ache que esse personagem é dos mais difíceis. O que ele de melhor faz é pegar frases de efeito e dar, de fato, ‘efeito’ a elas. Quando a série apresenta frases de efeito, momentos de menor brilho (como o lugar comum que é a relação de Hank com a ex-namorada, como é a personagem da filha dele, como é seu comportamento mulherengo, como é insistente a idéia do roteiro em mostrar que o personagem não gosta do filme originado de seu livro) perdem o poder de serem fatores negativos para o conjunto da série – que, eu acho, ganharia muito mais durando uma hora, e não meia.

Embora, como eu tinha dito, a sensação que fique é a de que os outros episódios irão melhorar, isso não deve significar que as frases de efeito vão melhorar. Não. Deve haver mais conflitos e situações que condigam com a originalidade que o piloto parece (pela expectativa da primeira cena), mas não chega a ter.

2 comentários:

Juliano Cavalca disse...

É o papel da vida do Duchovny. Toda a canastrice dele joga a favor do personagem. Dá pra dizer que Hank teve a vida 'sugada' por Los Angeles.
Pra Emmy ainda é cedo, mas a indicação dele pro Golden Globe é lock.

E eu considero Californication a anti-Entourage. Lá tudo é festa e alegria. Aqui tem uma melancolia, um humor negro quase cruel.

Gustavo Cruz disse...

Juliano, pois eu já acho que não é "anti", mas uma espécie de "Entourage" sem a companhia da turminha. Porque o Hank é o personagem do Adrian Grenier sem os colegas, mas com trabalho, mulheres, tiradas, etc. É da ausência da entourage que surge a melancolia que você falou.

Abração!