23 de ago. de 2007

Analisando os pilotos: "Saving Grace"

Nenhuma surpresa: Holly Hunter está esplêndida na nova série da TNT americana, Saving Grace. Interpretando a Grace do título, ela faz com que uma personagem não tão cheia de facetas quanto possa parecer ganhe profundidade, densidade, traços próprios, e nos convença de muitas coisas que o roteiro por si próprio não consegue. Fosse a série mais enxuta, sem frases de efeito ou gracinhas religiosas, talvez Holly conseguisse o feito de carregá-la nas costas. O máximo que Holly faz é não ser ruim, e ser um destaque. Isso é tudo que qualquer outra atriz no mundo conseguiria fazer, no máximo, com um material desses.

Grace é uma policial de atitude, e nos cinco primeiros minutos do piloto isso fica claro, pela forma como ela anda, bate, xinga, grita e ri. Após deixar isso claro, o roteiro meio que se livra de fazer qualquer coisa a mais pela personagem, no que diz respeito ao seu desenvolvimento. Tudo o que acontece depois pode até parecer revelador, mas não é nenhuma faceta nova, e sim reações da personagem criada nos cinco primeiros minutos. Aliás, nesse início, também há a introdução de um personagem, ao que parece, importante – o anjo Earl. Ele vê, encostado em um carro, a demonstração de atitude de Grace ao sair de casa e sair correndo com seu carro. Depois diz “Isso será um inferno” e o reflexo na janela do carro em que ele se encosta mostra asas angelicais. Earl é um tipo de anjo que masca gomas de tabaco e, num encontro seguinte com a personagem principal, brincará com Deus, dizendo que ele fica montado numa Harley Davidson no céu.

Ele também será o personagem que causará a mudança de vida em Grace, ao revelar a ela uma espécie de paraíso em forma de Grand Canyon, e fazendo o ultimato – é hora de mudar ou ela vai acabar no inferno assim que morrer. Grace sente um vento divino lá do alto de onde está e diz que aquilo foi “quase melhor que sexo”. Earl faz careta, o que denota, a Grace, a idéia de que sua vida sexual terá que mudar também, caso ela queira ir para o céu.

No resto do piloto, Grace, irritada, solta ainda um “Mas que diabos?!”, e vê certo personagem suicidar-se após dizer que ela é idiota por acreditar em Deus. Ou seja, após uns dez minutos de introdução, Saving Grace vira um festim religioso, cheio de pérolas e sacadas que, estranhamente, não tem frescor. Parece que toda temporada há uma série nova assim, meio sarcástica com religião. Definitivamente, não há tanta originalidade quanto a engrenagem de um programa assim exige para funcionar acima do nível do medíocre.

Pois bem: há, por trás do desenrolar bizarro que a trama religiosa ganha, ainda a história policial, a resolução dos crimes. No piloto, foi um seqüestro envolvendo pedofilia. O que Saving Grace deveria fazer é não deixar o crime da semana virar alvo dos desdobramentos divinos da história, não deixar haver interferência. O que acontece no piloto é um excesso de trilha sonora heterogênea, querendo criar um clima diferenciado, indo do metal ao reggae, e isso muitas vezes acaba englobando a trama do crime.

É estupidez ter a Holly Hunter tão bem e, em contrapartida, uma narrativa não tão bem sintonizada assim. Como a série ganhou encomenda de novos episódios para uma nova temporada, eu não duvido que as coisas se encaixem direitinho. Tô até torcendo para isso.

2 comentários:

Arthur disse...

Holly Hunter é uma excelente atriz!
A série me pareceu interessante...
Será que vai ser exibida por aqui pela TNT?

Gustavo Cruz disse...

Arthur, até agora não há informação de que a série foi comprada por alguma emissora nacional.
Abração!