9 de set. de 2007

Analisando os pilotos: "Mad Men"

Enquanto assistia ao piloto de Mad Men (nos Estados Unidos, pela AMC), eu também pensava se o Cinema poderia retratar anos passados de uma forma melhor ou mais viva que a Televisão. Porque vendo o tal episódio, é difícil achar que sim. Tudo bem que a série é produzida em escala cinematográfica – tanto no material usado em cenários quanto nas filmagens -, e que o estilo visual da série é baseado na filmografia de Hitchcock, como afirmou o criador Matthew Weiner em documentário sobre o processo de filmagem de Mad Men, mas ainda é televisão. O ponto principal do meu pensamento, porém, era quanto ao formato televisivo ser diferente do cinematográfico. Em Televisão, não é possível mostrar muita coisa de uma vez, enquanto que no Cinema, isso deve ser feito. Também, o formato de episódios não deixa que seja gasto muito tempo com detalhes de cenário ou figurino. Felizmente, cheguei a conclusão que dá, sim, para conciliar ambientação e narrativa de época tão bem quanto no cinema – porque Mad Men faz isso com excelência.

E faz com uma excelência que dá gosto de ver. Muitos dos diálogos desenvolvidos ao longo do piloto são deliciosos. A melhor coisa que o roteiro de Weiner (sim, o criador também escreveu o piloto) faz é não deixar muito cinismo ou frases de impacto no ar, ainda que toda a fumaça do cigarro e os tons sombrios da fotografia às vezes pareçam um campo perfeito para isso. Weiner tem um histórico em Família Soprano, como escritor, produtor e ator, sendo a primeira a mais interessante função. De lá ele conheceu Alan Taylor, diretor do piloto, que também já trabalhou em Big Love, Deadwood, Roma, Lost, Six Feet Under, Oz, The West Wing e Sex and the City. Logo, dá para perceber que não é coisa de amador ou muito menos brincadeira o que é feito aqui. Quando o episódio chega ao fim, num final interessante para o protagonista, mas talvez um pouco banal (você já viu aquilo antes, e em mais de uma ocasião), fica claro que o material é coisa fina.

Nem tudo é perfeito, porém. O problema primordial do piloto pertence apenas ao piloto, o que é ótimo. Qual é ele? Bem, a demora em se abrir algum enredo real. Até a metade do episódio, os personagens andam pelos cenários bem feitos e reais, falam uns com os outros, etc, mas não chegam de fato a criar alguma coisa fixa. E esse início tampouco serve para desenvolver os personagens muito – quando o episódio chega ao fim, o elenco em si parece um pouco sem personalidade, talvez pela frieza daquilo que é apresentado pelos seus papéis. É sempre um perigo em produções de época deixar os personagens meio inflexíveis, e aqui, como é tudo tão perfeitamente ambientado, fica a sensação de que o roteiro queria deixar mais o visual e os fatos guiarem a narrativa que os personagens e seus sentimentos. Numa trama sobre publicidade, sobre lidar com o público numa coisa meio que de bastidores, não dá para deixar aqueles que pronunciam os ótimos diálogos sem alma. O episódio começa explicando que os publicitários da época (anos 60) eram homens malucos, daí o título. Eles terminam contidos demais.

Como o piloto se porta como filme, eu espero que os próximos episódios ganhem mais corpo de série e os personagens fiquem mais livres, nessa série que não pode em hipótese alguma ser ignorada.

Um comentário:

Anônimo disse...

Passei aqui pra desejar uma ótima semana!