20 de set. de 2007

Analisando os pilotos: "Tell Me You Love Me"

O programa com a temática mais sexual da temporada – e possivelmente de um longo período também – começa de uma forma curiosa: mostrando crianças. Crianças felizes. Crianças felizes fazendo aquilo que adoram – jogar beisebol. No resto do episódio piloto, Tell Me You Love Me mostra adultos infelizes por causa daquilo que mais gostam – o sexo. Esse paradoxo pode não ser um objetivo do episódio, mas funciona direitinho. Só é uma pena que o resultado final seja tão sem alma.

Não é que eu não tenha gostado de todo o desenvolvimento pela parte do roteiro. Eu gostei da primeira parte. A idéia de trabalhar de forma extremamente realista funciona principalmente para criar um clima deprimente, triste (um pouquinho como Friday Night Lights), que na teoria faria os diálogos fluírem melhor e deixar a emoção bem próxima do telespectador. Na prática, acontece o que eu já disse – a série fica sem alma. Quanto mais realista a série é, mais os personagens parecem vazios. O exemplo mais simples é a personagem da Jane Alexander, uma terapeuta para casais. No consultório, ela solta frases que, de uma cena para outra, tem uma densidade tão diferente que não parece a mesma pessoa. E em casa, na intimidade, ela só tem momentos... íntimos (quem viu o episódio sabe o choque que é ver uma série de horário nobre mostrando uma senhora de idade como ela fazendo aquilo que ela faz ao fim do episódio). Como tudo aqui acaba em sexo, o piloto pode ter servido apenas para mostrar esse conceito, e, por que não?, para chocar. Eu só não tenho certeza de que isto é muito válido.

Tudo é meio frio, porque a (in)felicidade dos personagens é unidimensional. Uma quer engravidar, a outra quer ser sexualmente ativa, e a outra quer a garantia de que o marido vai casar e não vai colocar chifres em sua cabeça. A série é tão mais feminina que masculina, os diálogos aqui retesam tanto a cabeça e o interesse do telespectador, seja homem ou mulher, que a carência maior da série é por um fio condutor, que os leve até algum lugar. A falta de alma da série está em jogar em nós personagens ainda imaturos para a dramaturgia, e uma infelicidade que ainda não é tão profunda quanto a idéia da série precisa. Pode até ser que nos próximos episódios não haja tanto sexo, que os diálogos sejam mais lacônicos (porque são tantos personagens!) e formem um conjunto mais sólido. Confesso que ainda não vi os próximos episódios, mas não duvido que a série ganhe um corpo mais de, digamos, HBO. Ainda está muito como cinema independente americano pretensioso (!).

Ao conjunto competente de atores (no geral), falta um conjunto eficaz e qualitativamente abundante de personagens. E um pouquinho mais de alma.

2 comentários:

Juliano Cavalca disse...

'Ainda está muito como cinema independente americano pretensioso'


perfeito.

Arthur disse...

Hum... li que a audiência esta de mal a pior (não que isso indiquealgo relativo a qualidade), mas tbm não me interessei!

Boa Semana!